Wiel Coerver: Um Génio do Futebol
Se pudéssemos fazer uma analogia entre o desporto e a cadeia alimentar,
o futebol estaria certamente no topo dessa cadeia. É no planisfério o desporto
mais praticado e popular. A beleza do jogo está estritamente relacionada com os
intervenientes principais, os jogadores e a forma como tratam o esférico. Os
pormenores que alguns jogadores apresentam em campo, ornamentam o jogo e só
estão ao alcance de uma pequena franja, tendo em conta o vasto universo de
jogadores, a chamada técnica. A discussão sobre este requisito muito apreciado
no futebol é longa, será este um dote inato? Wiel Coerver acreditava que não e
na década de setenta desenvolveu o que hoje conhecemos como Método de Coerver.
O técnico holandês treinou um vasto leque de clubes no seu país entre
1959 e 1977, Roda JC, Sparta Rotterdam, NEC e Feyenoord são alguns deles.
Durante a sua passagem pelos vários clubes ficou reconhecido pelas virtudes do
seu treino de tal forma que foi apelidado de "Einstein do Futebol”.
A patente de treino de Coerver resultou do seu estudo, observação e
análise a jogadores dotados tecnicamente como Pelé, Garrincha, Rivelino,
Puskás, Maradona, Cruijff e a sua eficácia permitiu tornar este método de treino
técnico número um no Mundo. O seu objectivo é apurar a técnica individual e de
pequenos grupos nas várias situações do jogo, na recepção, corrida, passe e
drible. A estrutura é feita em pirâmide e composta por 6 níveis de aprendizagem
e para que possa avançar para o seguinte o indivíduo deve dominar o
antecedente.
Os seis níveis são:
Domínio de Bola – repetição de exercícios individuais de controlo de
bola com os ambos os pés;
Recepção e Passe – perspectiva desenvolver o primeiro toque, incentiva e
ensina a utilização de passes certeiros e criativos;
Movimentos 1vs1 – para desenvolver movimentos individuais e criar espaço
no sistema defensivo oponente;
Velocidade – para desenvolver a aceleração, corrida com e sem bola e
mudanças de ritmo;
Finalização – para melhorar a técnica de finalização e encorajar jogadas
instintivas nas imediações da área adversária;
Ataque Colectivo – visa melhorar as combinações ofensivas em pequenos
grupos com ênfase em ataques de ruptura rápida.
A técnica era considerada a arma
primordial por Coerver, porque melhorava o jogo individual e colectivo e a
maneira encontrada pelo holandês para incrementar o seu ideal de treino era
através do mecanismo da repetição exaustiva dos exercícios e movimentos
pretendidos, essa "mecanização" permitiria aos jogadores recorreram a
essas formas de jogar de forma automática durante os jogos, mesmo que o
adversário tentasse pressionar as suas acções. Este método foi aproveitado como
base da formação holandesa e mais tarde copiado por clubes e federações
estrangeiras. Actualmente sabe-se que escolas de renome internacional usam este
modelo desde as camadas mais jovens, caso do Barcelona e Manchester United e de
academias internacionais como é o caso de Clairefontaine. Em Portugal o método foi
utilizado pela primeira vez, em 2007, no FC Porto através da contratação do
jovem técnico holandês Pepijn Lijnders, que trabalhou na formação do PSV
Eindhoven e incutiu desde cedo o modelo nos escalões jovens do FC Porto. Apesar
de ser uma matriz de treino mais utilizada nas camadas jovens, também pode ser
aplicado no futebol sénior, hoje é considerado um guia de referência para a
prática do bom futebol.
MLS Com Modelo Pioneiro Para o Futebol
A Major League Soccer (MLS) é a liga de futebol profissional americana,
em terras do Tio Sam esta modalidade é conhecida como Soccer e tem fundamentos
e regras estruturais completamente distintas do modelo de futebol praticado na
esmagadora maioria dos países de campeonatos profissionais. Jeff Agoos, director técnico de competições da MLS, acredita que com este modelo, a liga americana
pode estar até 2022 entre as melhores ligas do mundo.
O desporto americano sempre se baseou num modelo próprio e peculiar, à
vista dos estrangeiros é um sistema demasiado complexo, mas com grande
percentagem de sucesso, nas modalidades em que esse modelo é incluído os E.U.A
são as grandes potências (Basquetebol, Hóquei no Gelo, Basebol e Futebol
Americano.) O basquetebol é uma modalidade praticada em vários países desde as
categorias de base, mas é consensualmente reconhecida a excelência da NBA em
termos organizativos, qualidade de jogo colectivo e individual, numa liga onde
é predominante o número de jogadores formados no sistema educativo americano.
As ligas internas americanas não se regulam pelas directrizes de entidades
externas, em alguns casos criam ou modificam as suas próprias regras e
implementam no seu modelo, o caso mais flagrante foi uma medida levada a cabo
pela NBA, incorporou a regra da linha de três pontos antes da FIBA (Federação
Internacional de Basquetebol).
A MLS copiou a matriz de outros desportos lá praticados, a classificação
não é feita por um sistema de pontos, apenas se contabilizam as vitórias,
empates e derrotas e divide-se numa
primeira fase classificação em duas conferências, Este e Oeste. Neste campeonato
actualmente estão em disputa 19 equipas (10 na conferência Este e 9 na Oeste).
A fase seguinte é a eliminar entre equipas da mesma conferência e coloca em
confronto o melhor recorde contra o pior e assim sucessivamente, nesta fase é
apurado o campeão de cada conferência e disputa-se a grande final entre ambos
para definir o campeão americano de futebol.
Este campeonato também inova e difere do resto do mundo num aspecto
muito importante, nenhuma equipa corre o risco de descer divisão, desde que
assegure contrapartidas financeiras necessárias para se inscrever no ano
seguinte a manutenção é garantida. O seu lugar pode ser substituído por outro
no caso de insolvência, decisão da direcção ou fundador, contudo uma equipa com
projecto um projecto sólido e sustentável pode ficar com o lugar, desde que
pague pela sua inscrição na liga e pela sua manutenção. Os valores não são
fixos. São definidos pela comissão da Major League e variam consoante a
conjunção económica, a necessidade de expansão da liga e o mercado a explorar.
Outra marca de contraste da MLS perante o resto das ligas é o tecto
salarial imposto nos regulamentos, nenhuma equipa pode exceder com o seu
plantel o orçamento imposto pela liga, esta medida surge com o intuito de manter
equilíbrio e evitar grandes fossos de qualidade entre as equipas, como
acontece em Espanha ou Escócia e sobretudo garantir que as franquias que estão
associadas à Liga sejam sustentáveis, gastar mais do que aquilo que se gera é
impeditivo pela Liga. Contudo, existe espaços nos regulamentos para que os
clubes consigam atraír nomes sonantes do futebol, como aconteceu com David
Beckham ou Thierry Henry. Cada franquia só pode ter três jogadores chamados de
“designados”, que podem ganhar acima do tecto, esta medida não teve um teor
meramente desportivo, foi também uma estratégia de marketing, porque criou
maior interesse junto da plateia americana e também motivou europeus a seguirem
os jogos do campeonato para continuarem a seguir as carreiras de jogadores
anteriormente aclamados. Uma vez que a Liga funciona como uma associação, os
contratos de publicidade, nomeadamente de marca de equipamentos é negociada com
os responsáveis da Liga e a marca passa a ser oficialmente e fornecedora da
competição, não permitindo aos clubes negociar directamente com outras marcas
de equipamentos desportivos, actualmente é a Adidas detentora desse contrato e
todas as equipas sem excepção usam equipamentos da multinacional alemã.
A MLS tem subido degraus de ano após ano, a evolução é notória e
explicada pela grande comunidade latina presente no país, mais afecta a este
tipo de desporto do que a maioria do típico americano e essa nuance sente-se no
número de espectadores presentes nos estádios e o respectivo investimento de
milionários mexicanos e sul-americanos que garantem uma fluidez de negócio que
supera, em muitos casos, as melhores expectativas dos fundadores da competição.
Neste momento a MLS é a 6ª liga de futebol profissional com melhor média de
assistência do Mundo, indicadores que deixam os responsáveis satisfeitos.
Apesar da ousadia e dos resultados positivos os responsáveis da MLS
ainda não conseguiram encontrar fórmulas para combater os desportos mais
populares nos E.U.A que geralmente se disputam há mesma hora e impedem a liga
de ter maior audiência e receita televisiva. Para além desses assustadores
competidores a liga tem de competir com outras ligas que se disputam há mesma
hora, como a mexicana e a dos países da América do Sul. A audiência média de
pessoas que assistem a um jogo de soccer é de 227 mil pessoas e os próprios
americanos valorizam mais as ligas europeias onde a assistência média ascende a
1 milhão de pessoas. Devido às fracas audiências, o valor pago pelas emissoras
é baixo. A NBC paga 10 milhões de dólares para transmitir a MLS e a ESPN paga 9
milhões de dólares. Um valor irrisório perto de outras grandes ligas do mundo,
como a Premier League, na audiência da TV, recebe 3,018 biliões de libras. O
único fenómeno de grande audiência são os jogos da selecção nacional mexicana
que não tem comparação possível segundo
Marisabel Munoz, directora de relações públicas da MLS. No entanto já
existem medidas para cativar mais adeptos, a permissão da entrada de equipas
que possam fomentar rivalidades com outras já existentes, na próxima temporada
prevê-se a entrada de New York City o que criará um dérbi nova-iorquino com os
New York Red Bulls e a criação de uma equipa com sede em Miami, que deverá ter
Beckham como grande investidor e permitirá atrair sobretudo as massas latinas,
os movimentos nesse sentido estão a ser cada vez mais intensificados.
O modelo de captação de jovens também está a ser estruturalmente
modificado, uma vez que no actual só era permitido contratar jovens oriundos
dos colégios e universidades, mas essa integração era demasiado tardia porque
os jovens acabavam a sua formação com 21 anos de idade e só nessa altura
começavam a ter os primeiros contactos com o mundo profissional, o que
enfraqueceu a qualidade do jogador americano perante selecções europeias ou da
América Latina, criar escalões base por categorias e apostar na sua formação
numa altura mais precoce parece ser um caminho inevitável para o soccer nos
E.U.A.
Futebol e Tecnologia: Um casamento anunciado
Após anos de discussão nos locais mais recônditos onde se aprecia
futebol, nos meios de comunicação, nos fóruns alusivos às temáticas de índole
desportiva, nomeadamente na International Football Associaton Board (IFBA),
organismo que regulamenta as regras praticadas no futebol, o futebol prepara-se
para estender o raio de acção das tecnologias a outras vertentes do jogo.
A introdução da tecnologia no futebol foi feita de forma lenta. Numa
fase inicial essa inovação deu-se nos materiais utilizados pelos intervenientes
directos, as bolas de futebol chegaram a pesar um quilo e hoje têm 450 gramas,
as chuteiras na década de 30 pesavam por par 1 quilo e actualmente cada par
pesa em média 350 gramas, as camisolas utilizadas nessa década pesavam, em
média 350 gramas e actualmente o peso foi reduzido para 188 gramas. A
tecnologia permitiu após várias observações do jogo criar condições para
melhorar o desempenho individual, uma redução drástica no peso dos materiais
desportivos foi uma das soluções lógicas e para isso suceder, promoveu-se a uma
alteração da matéria-prima na construção dos materiais como refere o professor
Sérgio Augusto Cunha da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas).
As camisolas eram inicialmente feitas de algodão, actualmente são feitas
de poliester, uma material mais leve, mais resistente e capaze de absorver e
secar o suor com rapidez. As chuteiras eram feitas de madeira e couro,
actualmente são feitas de ABS ou de polipropileno (plástico que pode ser
moldado através do aquecimento), elastômeros (borracha natural elástica) e
adesivos especiais. As bolas eram construídas em couro deram lugar ao plástico
com materiais sintéticos e com menor número de gomos que deixaram de ser
costurados e passaram a ser fixados termicamente.
Todos estes factores contribuíram para aumentar a rapidez dos jogadores,
a potência do remate e até para manter o jogador nas melhores condições
térmicas.
Posteriormente, a tecnologia começou a intergrar-se nas identidades
decisórias durante o jogo, árbitros e fiscais de linha, a primeira marca
tecnológica conhecida é o placar digital cuja funcionalidade é indicar o número
de desconto de tempo ou o número do jogador a ser substituído e o número
daquele que entra para o seu lugar, mais recentemente foi introduzido o intercomunicador que permite o
diálogo entre árbitros sem que estes se tenham de deslocar até ao receptor,
acto que permite poupar mais tempo e obter os mesmos efeitos.
Esta problemática sempre levantou celeuma entre as várias entidades que
regem o futebol, Michel Platini, actual presidente da UEFA é voz activa contra
a introdução de muitos meios tecnológicos por considerar que são investimentos
demasiadamente dispendiosos para o número de ocorrências, por destruir a
fluidez do jogo e por acreditar que com mais pessoas a arbitrarem é suficiente
para reduzir o número de erros. Contudo, a sua postura dogmática no que a esta
matéria diz respeito é contrariada por diversos líderes de clubes e até mesmo
pela FIFA, isto porque, a tecnologia da
linha de golo será utilizada como recurso de suporte aos árbitros pela primeira
vez na Copa do Mundo no Brasil.
GoalControl é o nome do sistema utilizado e é equipado com 14 câmaras de
alta velocidade localizadas ao redor do campo, com sete câmaras focadas em cada
linha do golo. A posição da bola é
contínua e automaticamente capturada em 3D, e a indicação se o golo foi marcado
ou não é imediatamente confirmada dentro de um segundo e enviada a um relógio
usado por cada membro da arbitragem. Este mecanismo foi concebido pela empresa
alemã GmbH que venceu a licitação em Abril de 2013 e testou o seu projecto na
Taça das Confederações de 2013, onde indicou correctamente a marcação de todos
os 68 golos marcados na prova, embora nenhum tenha sido alvo de dúvidas por
parte do olho humano.
Apesar de todas as resistências o futebol vai gradualmente adoptando as
tecnologias como bem necessário para uma verificação rigorosa e complementar da
função do Homem, ao exemplo de outros desportos. No ténis a tecnologia do
"Olho de Falcão" foi desenvolvida em meados do ano 2001, na NBA o
recurso a vários ângulos televisivos é usado para determinar uma decisão
duvidosa para a equipa de arbitragem composta por 3 elementos. Numa altura em
que o desporto movimenta enormes quantidades de fluxos monetários, estes
mecanismos são apontados como complementes essenciais para tornar as decisões
mais fidedignas e rigorosas.
Benfica: Apogeu Táctico de Jorge Jesus
Imagem de http://www.abola.pt/ |
No futebol moderno existem correntes de pensamento opostas, quer em termos de gestão financeira, quer no modelo de jogo definido para orientar uma equipa. Existem ideologias que cimentam os seus ideais de jogo no controlo da posse de bola e dão maior primazia à fase ofensiva em detrimento da defensiva. Outros técnicos e especialistas adoptam um estilo de jogo mais conservador, focam-se principalmente na organização defensiva, manter a equipa coesa e contra-atacar através de transições rápidas com o intuito de aproveitar alguma desorganização proveniente do adversário, quando esse se encontra na fase atacante.
Todavia, não é cientifico que um modelo tenha mais e melhores resultados do que o outro, tudo depende da interpretação que cada treinador e cada equipa faz de um modelo de jogo. Também não está provado que uma equipa não pode integrar os dois modelos de jogo nas diversas fases de uma partida e existem equipas europeias a fazê-lo de forma efectiva e muito perspicaz como são os casos do Atlético de Madrid de Diego Simeone, do Real Madrid de Carlo Ancelotti ou do Benfica de Jorge Jesus.
Na preparação para uma época ou quando é contratado um novo treinador existem duas perguntas que se impõe sempre nas colectivas de imprensa, se o esquema táctico de um determinado treinador será feito de acordo com as qualidades e virtudes dos jogadores disponíveis no plantel ou perante um determinado conceito de jogo serão contratados jogadores devidamente credenciados para ocupar essas posições. Existe também outra possibilidade que se pode acrescentar nesta equação, a capacidade que um treinador tem para adaptar jogadores às funções que ele deseja serem executadas.
Numa análise táctica detalhada à equipa de Jesus através da observação de jogos e dos movimentos neles executados na vertente ofensiva e defensiva do jogo, é possível observar várias nuances repetidamente presentes, mesmo com intérpretes diferentes, ou seja, apesar dos jogadores não serem os mesmos, os mecanismos de jogo e as movimentações permanecem. Jorge Jesus tem como táctica predilecta uma formação composta num 4-4-2 (quatro defesas, quatro médios e dois avançados). Cada jogador sabe o papel que tem a desempenhar quando está a defender, a atacar, nos livres directos ou indirectos e nas marcações de canto.
A primeira situação a ser analisada é a saída de bola quando esta se encontra na posse do guarda-redes, num pontapé de baliza ou num simples atraso a equipa organiza-se da seguinte forma:
Imagem de http://lineupbuilder.com/ |
1 - Nesta situação Jorge Jesus promove uma ligeira subida dos laterais, faz descer a unidade mais defensiva do meio campo para a posição de defesa, neste caso Rúben Amorim, ficando desta forma com mais uma unidade para sair a jogar com a bola pelo chão; dá indicações para os centrais abrirem até ao vértice da sua área para que Rúben Amorim tenha desde logo duas linhas de passe; a preferência de Jorge Jesus por fazer descer um médio para executar esta função prende-se pelo facto dos médios do Benfica terem maior qualidade de passe e visão de jogo do que os centrais, desta forma os passes saem com melhor eficácia;
As virtudes desta saída de bola estão no facto de cada unidade que vai tocar na bola após o guarda-redes ter mais do que uma unidade a quem pode passar a bola com segurança e assim começar a organizar um ataque continuado, se direccionarmos as atenções para Rúben Amorim ele terá como primeira linha de passe Enzo Perez, segunda linha de passe Garay e terceira Luisão, em caso do adversário tentar pressionar estas linhas pode arriscar mais o passe para outras jogadores que se deslocam na linha média ou então optar pelo jogo directo jogando nos avançados, mas a tendência é para que essa seja a última opção entre as várias existentes.
A próxima situação é o comportamento defensivo do Benfica tendo como base a análise do jogo Juventus vs Benfica em Turim na meia-final da Liga Europa:
As virtudes desta saída de bola estão no facto de cada unidade que vai tocar na bola após o guarda-redes ter mais do que uma unidade a quem pode passar a bola com segurança e assim começar a organizar um ataque continuado, se direccionarmos as atenções para Rúben Amorim ele terá como primeira linha de passe Enzo Perez, segunda linha de passe Garay e terceira Luisão, em caso do adversário tentar pressionar estas linhas pode arriscar mais o passe para outras jogadores que se deslocam na linha média ou então optar pelo jogo directo jogando nos avançados, mas a tendência é para que essa seja a última opção entre as várias existentes.
A próxima situação é o comportamento defensivo do Benfica tendo como base a análise do jogo Juventus vs Benfica em Turim na meia-final da Liga Europa:
2 - Nesta situação o Benfica enfrentava um adversário estrangeiro com um esquema táctico diferente dos que costuma defrontar em Portugal, num estilo italiano muito próprio a Juventus actua com 3 centrais, dois laterais que fazem a ala toda, Pirlo como elemento mais recuado do meio campo (permite ter maior raio de acção e mais visão de jogo, método ideal para fazer sobressair a grande virtude do seu jogo, a qualidade do passe); Vidal e Pogba funcionavam como médios box-to-box e na frente dois avançados de características distintas. O Benfica mesmo actuando fora de casa e a precisar de proteger uma vantagem de um golo, não modificou o seu desenho táctico, voltou a jogar com dois avançados ( Rodrigo e Lima) mas adoptou uma mentalidade completamente distinta, jogou em contenção, recuou todas as linhas e Jorge Jesus fez com que os seus avançados, cuja principal função é atacar, fossem os primeiros a defender; Rodrigo numa primeira fase foi o responsável por pressionar e incomodar Pirlo, o capitão da Juventus é o organizador de referência da "Vecchia Signora" e pressionar esta unidade fazia com que a Juventus tivesse de reajustar o seu jogo e procurar outras alternativas, desta forma Jesus começou a diminuir a eficácia em termos ofensivos da Juventus; o técnico português soube jogar com a vantagem e observou que a Juventus tinha 3 defesas que raramente se integravam na parte ofensiva da equipa e por isso achou desnecessário pressionar essas 3 unidades, uma vez que não representavam perigo e foi nesta nuance táctica que começou a ganhar vantagem numérica no meio campo, dando instruções a Markovic e a Gaitán para ajudarem Rúben Amorim e Enzo Pérez no centro do terreno, tapando as linhas de passe para os avançados da Juventus, era uma forma de Jorge Jesus diminuir as oportunidades de golo para a equipa italiana. Nota ainda para a rapidez de execução do Benfica quando recuperava a bola, os avançados avançavam rapidamente no terreno e os alas (Markovic e Gaitán) faziam o mesmo movimento para que o jogador com a posse de bola efectuasse rapidamente o passe e assim aproveitar algum momento de desorganização, neste caso, em alguns lances do jogo aparecia vindo de trás uma unidade extra ( Maxi Pereira ou Siqueira) para tentar causar ainda mais desequilíbrios na numerosa defesa italiana.
O terceiro momento a ser analisado é o Benfica na fase ofensiva, nas movimentações e posições que fazem quando tem como principal objectivo criar oportunidades de golo. Numa conferência que teve lugar na Faculdade de Motricidade Humana em Lisboa, Jorge Jesus revelou que as suas equipas definem sempre 4 focos de atenção fundamentais na fase ofensiva ou defensiva: 1 - a bola; 2 - colega de equipa; 3 - espaço existente; 4 - o adversário.
O terceiro momento a ser analisado é o Benfica na fase ofensiva, nas movimentações e posições que fazem quando tem como principal objectivo criar oportunidades de golo. Numa conferência que teve lugar na Faculdade de Motricidade Humana em Lisboa, Jorge Jesus revelou que as suas equipas definem sempre 4 focos de atenção fundamentais na fase ofensiva ou defensiva: 1 - a bola; 2 - colega de equipa; 3 - espaço existente; 4 - o adversário.
Imagem de http://lineupbuilder.com/ |
3 - Esta disposição é visível quando o Benfica ataca continuamente, a linha defensiva sobe até à linha do meio campo, Luisão e Garay são sempre os jogadores mais recuados; cada um dos laterais está ligeiramente mais avançado e é impeditivo que ataquem os dois ao mesmo tempo, para evitar que a equipa fique com poucas unidades a defender no caso da bola ser interceptada pelo adversário; Rúben Amorim é a unidade do meio campo mais atrasada e tem como função servir de apoio ao organizador de jogo (Enzo Pérez) caso este não tenha as melhores condições para endossar a bola a outro elemento, Rúben surge como alternativa mais segura; Gaitán e Markovic colocam-se como extremos e flectem frequentemente para zonas interiores com o objectivo de deixar o flanco aberto para a subida dos laterais que tendem a aparecer em alta velocidade e constituem mais uma via para servir os avançados; os avançados do Benfica são ambos muito móveis e fortes a segurar a bola à espera de movimentações, ambos são muito fortes também a jogar em espaços curtos, fazer tabelas e encontrar a melhor posição para finalizar.
Estas são algumas das variantes tácticas do Benfica mais salientes esta temporada e que colocaram o Benfica no trilho das vitórias, com um campeonato, uma Taça da Liga garantida e com duas finais por disputar. Os mecanismos de jogo implantados por Jesus são de tal forma eficazes que independentemente de quem jogue, a organização não esmorece e isso é uma das qualidades mais apreciadas pelos dirigentes desportivos do futebol actual. Um orientador que sabe rentabilizar os recursos humanos existentes e exponenciar as suas características ao máximo, dentro de uma ideia muito própria de jogo.
8 de Maio de 2014
Academias de futebol funcionam como incubadoras para jovens talentos
Para além de terem ganho por mais do que uma vez a Bola de Ouro, Leonel Messi e Cristiano Ronaldo tem muito mais em comum. Ambos saíram com tenra idade das suas residências para se dedicarem ao futebol e ao desenvolvimento das suas potencialidades.
O argentino natural da cidade de Rosário, começou a dar os primeiros passos no Newells Old Boys, clube situado naquela cidade. Rapidamente chamou atenção aos responsáveis da prospecção do Barcelona que o levaram para a Catalunha com 13 anos de idade juntamente com os pais, tendo oferecido emprego a ambos e pago um tratamento de insuficiência hormonal que assolava o jovem argentino. Cristiano Ronaldo é natural do Funchal e começou o seu percurso no Clube Futebol Andorinha. Em 1995, assinou por um clube local, o Clube Desportivo Nacional onde jogou nas categorias de base, suscitou o interesse do Sporting para onde se transferiu mais tarde, a sua mudança permitiu ao Nacional saldar uma dívida de 450 mil escudos para com o clube da capital.
Estes dois jogadores de realidades e países distintos, seguiram trajectos semelhantes, integraram-se em academias de futebol, devidamente preparadas para formar, não só desportivamente, jovens atletas. Tendo em conta o número de jogadores formados e a sua qualidade existem duas academias europeias que se destacam no contexto actual do futebol, a Academia de Alcochete propriedade do Sporting Clube de Portugal e La Masia propriedade do Barcelona.
La Masia em Barcelona |
A Academia de Alcochete dispõe de cinco campos de futebol com relva natural e um recinto coberto com piso sintético, o edifício tem 91 quartos totalmente equipados e dois refeitórios e portanto condições adequadas para receber jovens de outros pontos do país ou estrangeiros. Em La Masia as condições são semelhantes, é uma casa em pedra construída em 1701 e que foi totalmente remodelada em 1979, com o intuito de acolher a tempo inteiro os jovens jogadores contratados pelo clube que viviam longe de Barcelona. La Masia tem uma biblioteca, dormitórios, refeitórios e já foi a casa de mais de 500 jovens.
Neste tipo de academias os clubes procuram não só formar futuros atletas, mas também cidadãos. Em La Masia, os jovens são direccionados para as melhores escolas de Barcelona, atribui-se uma grande importância ao facto de terminarem a escolaridade obrigatória e um mau desempenho escolar pode resultar num jogo de suspensão imposto pelo próprio clube. O Sporting na apresentação do seu projecto para Academia também deu ênfase à transmissão de valores como competência, profissionalismo, espírito de equipa, responsabilidade, ética e rigor. A Academia de Alcochete é neste momento a única europeia a obter o nível de excelência atribuído pela Empresa Internacional de Certificação (EIC) que tem em conta factores como recrutamento de jogadores, formação desportiva, acompanhamento médico-desportivo, formação pessoal e social e programas lúdico-desportivos.
Academia de Alcochete |
Mas, porque investem os clubes em infraestruturas para acolher e formar jovens atletas? O objectivo primordial é torná-los capazes de integrar as equipas principais e formar equipas com baixo custo para o próprio clube, uma formação de qualidade permite ao clube poupar investimentos em jogadores estrangeiros cujo custo é bastante mais caro. Ao trazer jovens numa fase precoce é possível aos responsáveis pelas Academias incutir vários ideais, a fidelização ao clube, comportamento em sociedade uma vez que habitam com jovens de diferentes culturas e profissionalismo.
Num mundo cada vez mais globalizado o futebol é um dos exemplos mais flagrantes desse processo, com prospecção espalhada pelos quatro cantos do Mundo, os clubes tentam convencer jovens menores a assinarem contratos de formação com os clubes, situação que a FIFA, enquanto entidade reguladora tem combatido impondo regras quanto à contratação de jovens com menos de 18 anos. Contudo, na Europa existem excepções quanto a esta regra e é permitido fazer contratações em três casos: se os pais do atleta emigraram para determinado país por conta própria, sem nenhum tipo de relação com o futebol; se a transacção ocorrer entre países da União Europeia e o jogador tiver entre 16 e 18 anos; ou se a residência do atleta estiver localizada a menos de 50 quilómetros da fronteira do novo país. A discussão em torno desta problemática tem sido cada vez mais discutida, uma vez que ao contratar jovens atletas, os clubes de países de origem pobre não são compensados pela formação do atleta e não tem argumentos para contrariar o poderio e as condições dos clubes europeus.
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