Gastronomia






  

Por: Carina Ferreira














Pastel da Covilhã em molho de Açafrão
Pastel de Molho da Covilhã
(Iguaria Tradicional Beirã)

A gastronomia tem sempre por trás de si uma estrutura histórica, que caracteriza um determinado povo e a sua terra de origem, e o Pastel de Molho da Covilhã não é exceção.

O passado da Covilhã remonta ao princípio dos tempos, abrigo de pastores lusitanos e fortaleza romana conhecida por Cava Juliana ou Silia Hermania. Foi D. Sancho I que em 1186 concedeu foral à Covilhã. Já no tempo da Idade Média era uma das principais "vilas do reino", pelo facto de figuras naturais da cidade ou da região se terem afirmado nos grandes descobrimentos dos séculos XV e XVI, o avanço no Atlântico, o caminho marítimo para a Índia, as descobertas da América e do Brasil.

Situada na encosta da Serra da Estrela, a Covilhã é uma cidade conhecida pela sua dedicação à indústria têxtil e às grandes empresas fabris que nela souberam criar modelos de negócio durante anos. Nas décadas de 60 e 90 ocorrerem dois grandes incêndios que conduziram à desativação definitiva. Em 1997, a Universidade da Beira Interior adquiriu o complexo com o objetivo de o transformar na sede do Museu de Lanifícios e criar o Núcleo Museológico da Industrialização e o Centro de Documentação/Arquivo-Histórico dos Lanifícios. Hoje, é uma área arqueológica com uma coleção de máquinas, equipamentos e documentos que complementam a história da indústria têxtil na Covilhã e no país.

Quando o assunto é trabalho, o prato é uma boa indicação gastronómica e, não é por acaso, que é escolhido o Pastel de Molho.


Com origem e história forçosamente interessante, trata-se de um prato que de tão bizarro, os Pastéis de Molho da Covilhã são comidos pelos autóctones de modo perfeitamente normal, o que já não acontece com as gentes de fora que se interessam principalmente pela “estranheza” da iguaria.


Os Pastéis de Molho contêm uma origem que remota a alguns séculos atrás, prevê-se que a receita do famoso pastel tenha chegado por mãos dos árabes. Mas nos anos 20 do século passado os Pastéis de Molho fizeram história e tomaram mais reconhecimento. Foi pelas mãos dos empregados/operários fabris da cidade da Covilhã, que não tinham tempo para fazer sopa e virão a solução nos pastéis com molho de açafrão. Substituíram a sopa por estes pastéis, uma vez que despendiam muito menos tempo e dinheiro a confecioná-los, aguentando durante várias semanas, o que não sucede com a sopa.

O Pastel de Molho era e continua a ser servido com molho de açafrão. Dobrado em meia-lua, têm dentro um pouco de recheio de carne sobre o qual muita gente chama a “bolinha de carne” devido á estrutura do pastel que contém mais massa folhada do que carne. A senhora Rosa natural da Covilhã e dona de casa conta que não costuma fazer os pastéis co molho de açafrão “ faço-os porque lá em casa todos gostamos, mas preferimos comê-los simples, com o molho de açafrão o prato torna-se uma refeição pesada”. Contudo, a senhora Rosa diz lembrar-se da história associada aos pastéis, “eram uma refeição apreciada e muito usada pelos operários das fábricas”.

Pastelaria Balcão Bar - Covilhã

O Balcão Bar, é uma pastelaria junto à antiga garagem de S. João, que ao longo dos anos serve os seus clientes com as melhores iguarias tradicionais que a Covilhã tem para oferecer, e o pastel de molho é presença obrigatória. O senhor Manuel é marido da D. Rosa e chefe de cozinha acerca de 19 anos no Hotel Trip D. Maria e, refere que quando está de folga é no Balcão Bar que procura os pastéis covilhanenses, “habituei-me a comprá-los naquele sítio, e não costumo fugir à regra, quando o pedido lá em casa são os pastéis da terra sou eu quem busca, prepara e serve, é um serviço que faço com gosto”.


https://www.facebook.com/pages/Balc%C3%A3o-Bar-Covilh%C3%A3/242348665810191?fref=ts

O molho que rega esta especialidade tradicional beirã é feito com o Açafrão, uma planta que é extraída dos estigmas de flores de Crocus sativus. Esta especiaria é utilizada desde a antiguidade na culinária mediterrânica, onde é utilizada no preparo de risoto de aves, caldos, massas e doces. É tida como uma das mais caras especiarias do mundo uma vez que, para se obter 1Kg de açafrão seco, são processadas manualmente cerca de 32 mil flores e é preciso cultivar uma área de aproximadamente 2000  m². Quando a flor está seca desprende dos seus órgãos um pigmento amarelo e um óleo que tradicionalmente é também usado como corante de tecidos.

Sendo extrato de uma pequena flor, a ingestão do Açafrão precisa de alguma cautela, para além do seu uso na culinária é também utilizado na preparação de tinturas, extratos, loções oculares e colírios, mas sobretudo em pílulas abortivas. Quantidades exageradas atuam como um sedativo. A dose letal é 20 g, enquanto a dose abortiva é 10 g.

O açafrão é pelo menos tão antigo como a escrita, foi amplamente utiliza­do como condimento e como um pigmento. Entre os séculos XVI e XIX, o açafrão foi usado em várias preparações para o alívio da dor. Esta especiaria contém propriedades medicinais como: antiofídico, digestivo, emenagoga, espasmódica e laxante.

(A flor do Açafrão “Crocus sativus” provém dos estames de uma planta originária do Mediterrâneo. Perfuma e dá cor a diversos pratos, o seu sabor levemente amargo deve-se à picrocrocina, substância que estimula o aparelho digestivo).
Flôr de Açafrão
Especiaria depois de extraída
da flôr

(A especiaria retirada a partir dos estigmas secos de uma flor “a rosa de açafrão”, os fios são finos e vermelhos. No molho apresenta uma cor alaranjada escura e uma aroma forte e levemente amargo. Para se obter 1Kg de estigmas secos açafrão são necessárias cerca de 32 mil flores).

Esta especiaria para além do sabor que proporciona na culinária, também tem sido empregada para fins medicinais, principalmente no tratamento do cancro e de estados depressivos.



Em território nacional o Açafrão é utilizado em pratos como o arroz de Açafrão, a Tigelada de perdiz e de coelho, os canudos de ovos mexidos, a lampreia, o picadinho de carne de vaca, a galinha desfiada, a galinha mourisca e nos pastéis de carne.

Já noutros países europeus como a França, o Açafrão é usado na «bouillabaise», que é uma caldeirada de peixe; na Itália é utilizado no «Risotto Milanese»; e em Espanha, por influência árabe, o seu uso mantém-se mais divulgado, na célebre «Paelha à Valenciana» e também é utilizado em pratos de grão guisado, nos «huevos rellenos», no gaspacho de La Mancha, nos ovos estufados e na tortilha à espanhola com açafrão.

Para os curiosos e mais atrevidos a meter a mão na massa fica o modo de preparação do Pastel de Molho da Covilhã: põe-se a água a ferver com sal, vinagre, uns fios de açafrão e um ramo de salsa; coloca-se o Pastel num prato, e deita-se a calda por cima, tapa-se com outro prato e aguarda-se um pouco para "abrir"; o Pastel de Molho "abre", fortalecendo a refeição. O Pastel é composto por uma massa de margarina ou banha de porco, sal, farinha e recheado com carne picada guisada (cebola, louro e sal).

Para além de poder ser servido com molho de açafrão ou chá preto, pode ainda ser comido apenas como simples Pastel de carne. Este Pastel seco é feito com massa folhada cortada em tirinhas, que se enrolam em forma de espiral, dobrando uma das pontas do pastel para rechear com carne de vaca refogada.

O pastel de Molho da Covilhã apresenta algumas semelhanças com o “Pastel de Chaves”, que é também um pastel folhado recheado de carne picada, mas o que os difere ainda mais para além da forma é o modo como são comidos à mesa. Quanto ao Pastel da Covilhã é regado com molho de açafrão ou chá preto podendo também ser comido seco; o Pastel de Chaves é comido seco.

O delicioso Pastel de molho só poderá ser provado como uma deslocação à cidade da Covilhã, uma vez que só aqui é confecionado e posto á disposição dos apreciadores. Quanto ao local mais adequado para se encontrar basta estar na cidade da Covilhã e entrar num restaurante ou pastelaria covilhanense que a iguaria é fácil de encontrar.

O domínio Árabe na região entre os séculos VIII e X, trouxe muito dessa cultura para a beira interior, e a origem dos pastéis diz-se ter chegado com estes povos do oriente.



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(Iguaria típica da Vila do Teixoso)

Caldo do Forno


Caldo do Forno em forno de lenha

Situada nas abas da Serra da Estrela, a vila do Teixoso encontra-se a cerca de 8 km da Covilhã e define-se como um estreito elo de ligação entre os concelhos da Covilhã e Belmonte. A História da localidade começou com o povoamento na época romana. E a curiosidade do nome da vila, advém do número de teixos existentes outrora nesta região, sendo o teixo uma árvore frondosa que existiu numa das entradas principais da povoação, conservando-se atualmente, um exemplar na Quinta de São João.

Os caldos do Forno podem ser feitos com diferentes ingredientes: com feijão vermelho, com feijão manteiga e outros, com feijocas e ainda com grão. Caldo do Forno para vários gostos. Todos os caldos levam arroz e as carnes de porco (pé, orelheira e chourição), ingredientes que outrora para além das necessidades, as famílias mais pobres conseguiam com esforço e trabalho na terra.


Aspeto do caldo do forno do Teixoso
O sabor das dificuldades de outros tempos, é hoje superado. Com utensílios mais à mão e formas de vida mais desafogadas, o forno de lenha, já não é tão usado para finalizar os Caldos do forno. Ana Gonçalves, uma vizinha Covilhanense, diz que o Caldo de Forno que a mãe prepara não tem o sabor dos caldos que ela costuma comer quando vai ao Teixoso. “ A minha mãe gosta de fazer comida tradicional da nossa região, mas confesso que os caldos do forno que tenho provado quando vou ao Teixoso têm um sabor diferente, mais consistência, mais tradição penso que é por ir ao forno de lenha que dá outro sabor ao caldo”. 

Esta iguaria, o Caldo do Forno, nasceu acerca de 200 anos pelas mãos das gentes que tinham mais dificuldades, chegando a ser reconhecido como “o prato dos pobres”. Antigamente, este caldo era confecionado em panela de esmalte, nos fornos de lenha aproveitando-se o calor do forno onde se cozia o pão. O preparado cozia lentamente, durante toda a noite de sábado para domingo, no dia seguinte pela manhã era retirado por cada família após a saída da missa, servindo o almoço das famílias ao domingo. 

O forno de lenha veio revolucionar a forma de alimentação doméstica das civilizações devido ao uso do fogo como meio para confeção dos alimentos. Com origem acerca de 500 mil anos pelas mãos da civilização Egípcia por ter sido a primeira a ter um forno para experimentação química. Construído de forma cilíndrica com tijolos, e lama do rio Nilo, fechado em cone, o interior é composto por uma laje lisa na horizontal e, na parte inferior deixava-se uma entrada para se poder alimentar o forno com lenha.

Atualmente este caldo é recheado com uma maior variedade de ingredientes, conservando no entanto a tradicional base de grão (ou feijão) e arroz. Para matarem saudades dos sabores do passado, os teixosenses costumam confecionar o prato numa panela de pressão, uma vez que se faz mais rápido, ao fim de duas horas, resulta um caldo grosso e substancial.

Este prato também tem sido o rei no festival de Caldos do Forno na terra de origem, o Teixoso, que este ano celebrou a terceira edição do evento, que pretende juntar a população local com o objetivo de valorizar e divulgar a tradição dos Teixosenses.


Terceiro Festival dos Caldos do Forno do Teixoso 


Terceiro Festival dos
Caldos do Forno do Teixoso
Para a preparação do Caldo do Forno deve: Cozer-se a dobrada sem sal, à parte cozem-se a orelheira, o pé de porco, toucinho e o presunto, faz-se um refogado com a cebola, o azeite e meio chouriço. Cortam-se as carnes e juntam-se ao mesmo refogado, tempera-se com sal, pimenta e cravinhos, deixa-se ferver. Deixa-se levantar fervura a água que cozeu a dobrada e deita-se o arroz, mexe-se e assim que ferver leva-se ao forno a cozer, entretanto cozem-se os chouriços e as farinheiras.

Não só os Caldos do Forno dão visibilidade à mesa gastronómica do Teixoso, também as típicas Papas de Carolo são um doce apreciado e com bastantes anos de existência entres as gentes desta terra.

Imagens: retiradas de RTP


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Maranhos de Pinhal
 (Ex-libris da gastronomia da Beira Baixa)

 

Conhecidos em toda a região da Beira Baixa, os Maranhos, são um produto gastronómico tradicional do Pinhal. Mas também característicos nos concelhos de Mação, Oleiros, Vila de Rei, Pimpilhosa da Serra, Sertã e Proença-a-Nova.
                          
                                                                                                    

mapa: Região da Beira Interior – Beira Baixa “Produtos Tradicionais e Pratos Típicos da Beira Interior” Maria Borges. COIMBRA, 2001.

A Beira Baixa abrange a Beira Interior Sul, Cova da Beira e parcialmente o Pinhal Interior Sul e Norte, englobando grande parte de Castelo Branco. Faz fronteira a Norte com a Beira Alta, a Noroeste com a Beira Litoral, a Sudoeste com o Ribatejo, a Sul com o Alto Alentejo e a Leste com a Espanha (província de Cáceres, na Estremadura). A Beira Baixa é constituída por 13 concelhos, integrando a totalidade do Distrito de Castelo Branco e ainda um concelho do Distrito de Coimbra e outro de Santarém. 

Com uma localização rodeada de povoações com outras tradições e costumes, a Beira Baixa está favorecida na partilha de sabores e tradições na mesa desta região.

Designado o ex-libris do Pinhal, o aparecimento dos Maranhos nesta zona diz-se estar relacionado com a caprinocultura (criação de cabras para exploração de carne e leite), sendo esta uma zona de excelência na criação de cabras.

A designação de Maranhos surgiu pelo fato dos ingredientes serem colocados dentro do estômago da cabra, que antes disso passa por um processo de lavagem e raspagem. A confeção deste prato está ligada aos dias festivos da região da Beira Baixa. A cabra é de raça Charnequeira (caprino característico da região da beira baixa e também da costa Alentejana, criado para produção de leite ou carne), animal que as gentes de poucos recursos conseguiam obter facilmente, e tornavam possível a celebração de festas religiosas ou familiares com os Maranhos.
Na ementa tradicional, os Maranhos eram usados para enriquecer a alimentação, onde as couves e as carnes da salgadeira (uma arca de madeira que se enchia de sal, e esta fazia a conservação das carnes ou peixes durante algum tempo, uma vez que as arcas frigoríficas ainda eram de acesso difícil nas regiões rurais).  
O aproveitamento pormenorizado de modo a não desperdiçar ingredientes, levou à invenção deste produto culinário beirão.

O Maranho consiste num pequeno saco feito de um bocado de bucho de cabra, recheado com carne de cabra, cebola, presunto e arroz e fortemente condimentado com hortelã, colorau e salsa. Os Maranhos de Pinhal são conhecidos na Sertã por molhinhos ou borlhões.





É de referir que os temperos de confeção dos Maranhos na sua região de origem variam de lugar para lugar assim como os nomes. Há locais onde podem ser servidos como entradas. De salientar que também no Alto Alentejo, precisamente no concelho de Nisa também se fazem, mas com uma preparação que difere da região da Beira Baixa, uma vez que as carnes também não são iguais e não se preparam do mesmo modo.

 

Para confecionar os Maranhos é preciso:

  • 3 Kg de carne cabra ou cabrito
  • 500 gr. de presunto
  • 1 chouriça magra
  • Limão
  • Sal q. b.
  • Pimenta q. b.
  • 1 Litro de vinho branco
  • Hortelã q. b.
  • 1 bandouva- (estômago de cabra).
  • 800 gr. de arroz



Não esquecer a agulha e linha para cozer as peles dos saquinhos. O processo requer alguma agilidade e precisão, deve limpar-se a bandouva (estômago da cabra) em várias águas, quentes e frias, raspar-se com uma faca e esfregar-se com sumo de limão. O estômago, corta-se em bocadinhos que se cosem para fazer os saquinhos. Parte-se a carne miudinha e o presunto tempera-se com todos os ingredientes mencionados e a hortelã partida miudinha. Junta-se o arroz, e deixa-se repousar um bom bocado. Enchem-se os saquinhos, e liga-se tudo muito bem com a ajuda da agulha e da linha. E leva-se a cozer em água temperada de sal, num período de 60 minutos. A verificação da cozedura deve ser feita com um garfo. Quando os saquinhos estiverem duros é sinal de já estarem cozidos, devem retirar-se da água e serem servidos.

Acompanhados de uma salada ou grelos salteados com alho e azeite, são cortados às rodelas grossas, onde se verifica a mistura do arroz e das carnes de cabra no interior.

O nome Pinhal leva a pensar e está associado a uma vasta área de pinheiros, e realmente as aldeias pitorescas desta região desfrutam do ar puro que a floresta lhes proporciona. Mas não é apenas o pinhal a dominar as paisagens desta região, no século XX, as encostas da zona eram cobertas também por castanheiros.

A região contém uma vegetação natural que faz predominar a qualidade dos produtos que as gentes serranas sabem retirar dos seus típicos e genuínos produtos tradicionais. Permitem assim viver a tradição e os sabores do património do povo que habita esta região e dos seus visitantes.







Iguaria Transmontana “Os Pastéis de Chaves”


Trás-os-Montes é, por excelência, uma região de boa mesa. Originais e inconfundíveis, os Pastéis de Chaves são uma das iguarias que marcam os sabores típicos da região. Com uma história tão remota que se torna difícil apontar exatamente a sua origem, são atualmente um dos ex-libris da gastronomia flaviense. (Foto por: Joana Delgado) .

A antiga aquae flavieae, com traços da invasão romana, hoje a cidade de Chaves com as Termas, o rio Tâmega, o Castelo, o Forte e o afamado Pastel de Chaves. Um ex-libris que encerra em si história: a ser feito desde o século XIX, fala-se que era uma senhora que os vendia na rua, o Pastel de Chaves é uma especialidade tradicional que contém produtos da própria região. Constituído por uma espécie de folhado finíssimo e crocante, o pastel é recheado de carne de vitela picada, salsa, alho e todo um processo artesanal.

A serem feitos à mais de 150 anos, os Pastéis de Chaves, genuínos, por conterem em si as carnes de vitela características da região do Alto Douro e Barroso, continuam a ser fabricados por toda a cidade. A (Pastelaria Maria), situada junto ao largo do município, é a casa mais antiga que detém a maior tradição nas mãos da D. Maria, que ao longo da sua vida vendeu os famosos pastéis da cidade flaviense. (Foto por: Dinis Ponteira)

Esta iguaria chama à cidade de Chaves um contingente de visitas considerável. A procura por produtos tradicionais de cariz genuíno e o reconhecimento fazem valer a sua procura. Teresa Machado, uma filha da terra fala da pastelaria Maria, onde trabalhou e aprendeu durante alguns anos a confecionar os pastéis de Chaves. A antiga pasteleira sublima que “o processo de fabrico dos pastéis é todo à moda antiga, como ainda hoje, e isso torna o nosso pastel um produto puramente artesanal”. Mas para além disso, Teresa sublinha ainda, que “o tempero da carne e o tratamento da massa folhada são o segredo dos reconhecidos pastéis de Chaves”. 

No início de 2012, o pastel de Chaves recebeu a nível nacional, e em Diário da República, a indicação geográfica protegida. Aquando do seu reconhecimento a nível nacional, as pastelarias foram responsáveis por uma produção diária que ultrapassava o 25 000 pastéis. Em Julho de 2013 foi apresentado o pedido de registo ao nível da União Europeia.

A iguaria em formato de meia-lua, estende-se pelo território nacional, consumida originalmente ao pequeno-almoço pelas gentes de Chaves, faz também as delícias dos almoços dos portugueses que saboreiam a tradicional confeção dos pastéis.

Os “pastéis de Chaves”, designados com o mesmo nome na loja do Porto podem ser saboreados localmente ou em casa, de preferência morninhos, aquecidos em forno. Neste espaço, além dos pastéis originais, certificados como produto de Indicação Geográfica Protegida em 2012, há ainda um leque de variados produtos tradicionais da região transmontana.

https://www.facebook.com/ALojaDosPasteisDeChaves?fref=ts

Já na capital (Lisboa), pode-se encontrar a casa “Prazeres da Terra” nesta loja e cafetaria, o ex-líbris são os afamados pastéis de Chaves, que antes eram quase impossíveis de encontrar na capital. Sempre quentinhos, os admirados pastéis flavienses podem ser servidos na hora ou comprados congelados para fazer em casa.

https://www.facebook.com/PrazeresDaTerra?fref=ts

Esta expansão dos pastéis de Chaves pelas grandes cidades nacionais deve-se ao empreendedorismo e ao orgulho das gentes desta terra, que tentam levar o que de melhor a região de Trás-os-Montes tem para oferece à comunidade.

Para os aventureiros na cozinha fica a receita e o modo de preparação dos pastéis de Chaves: é necessário farinha, ovos, sal, margarina, óleo, (carne de vitela picada com salsa e alho). A confeção processa-se através do: amassar a farinha com os ovos, adiciona-se a água morna com sal e amassa-se bem até ficar uma massa fina. Estende-se a massa com o rolo num retângulo grande, divide-se a margarina em três partes iguais. Com a ajuda de uma faca, barra-se a massa com a primeira parte da margarina. Enrola-se e volta e estender-se. Faz-se esta operação três vezes com a manteiga e a última vez sem nada. Fica com cerca de 6 cm de diâmetro e corta-se às rodelas de 1 cm. Quando as rodelas estiverem todas cortadas untam-se as mãos com óleo e estendem-se as rodelas com os dedos até cerca de 10 cm de largura. Recheiam-se com picado de carne. Dobram-se ao meio (ficam do feitio de meia lua), calca-se na carne e não nas pontas e vão a cozer em tabuleiro polvilhado com farinha.

Este é o processo, a história e tradição dos pastéis de Chaves que fizeram dos sabores da terra um reconhecimento nacional e têm-no levado além-fronteiras. 

 

 

 

Cavacas de Pinhel
“Doce conventual da região do Interior”


foto: Município de Pinhel

 

Foi durante o período medieval que esta região, e concretamente a vila de Pinhel, assumiu uma importância relevante no contexto nacional. Das muralhas, do relevo e clima do vale do Côa, a gastronomia é também um prato obrigatório para os visitantes da cidade de Pinhel.

O conselho de Pinhel localiza-se na zona central do Distrito da Guarda e é composto por 27 freguesias. O seu nome deriva da grande quantidade de pinheiros existentes na zona.

O património histórico está disperso um pouco por todo o Concelho de Pinhel, a muralha está aberta com seis entradas: Vila, Santiago, S. João, Marrocos, Alvacar e Marialva. Para além da história cultural que muito marca a cidade de Pinhel também a história gastronómica tem séculos de trabalho para nos falar das iguarias que preenchem as mesas das gentes desta região do interior, com as suas tão conhecidas Cavacas de Pinhel.

Foi nas velhas cozinhas dos conventos de Portugal que surgiram as melhores iguarias da mesa portuguesa. Na cidade de Pinhel, foi no Convento de Santa Clara que nasceram as saborosas Cavacas, que criadas à centenas de anos ainda hoje, são uma das marcas gastronómicas desta terra e uma iguaria a apreciar.

A doçaria conventual teve origem nos conventos, sendo confeccionada e caracterizada por serem doces compostos por grandes quantidades de açúcar e gemas de ovos. Os primórdios da doçaria conventual em Portugal surgiram no século XV. Foi neste período que o açúcar entrou na tradição gastronómica dos conventos. O principal adoçante utilizado na culinária era o mel, sendo o açúcar um ingrediente não muito utilizado. Com a colonização da Ilha da Madeira, o açúcar recebeu uma maior atenção, passando-se a cultivar a cana-de-açúcar. 

São muitas as regiões de Portugal que contém um determinado doce conventual que preenche a vasta lista de doces conventuais. É importante destacar que a confecção de um determinado doce pode variar consoante a região, e o convento da qual é originário. Alguns exemplos desses doces são: o leite-creme, o pudim,  barriga-de-freira, a garganta de freira, as rabanadas, os ovos moles, a trouxa de ovos, o arroz doce e o toucinho do céu.

 

Apesar de hoje, se encontrar facilmente em vários locais do país produtos tradicionais característicos de algumas regiões, isto não acontece com as Cavacas de Pinhel, esta iguaria apenas pode ser adquirida na sua cidade berço, em Pinhel. O preço normal de um saquinho de cavacas fica a 5.28 cêntimos. Quando se pretendem encomendas grandes é necessário um pedido com antecedência devido à demora na preparação da massa que sendo quantidades maiores requer adiantamento de trabalho do dia anterior.





Para os mais curiosos e aventureiros na cozinha fica a receita das Cavacas de Pinhel: deve peneira-se a farinha com o bicarbonato e o sal para um alguidar. Faz-se uma cova no meio onde se deitam 2 ovos inteiros e as 8 gemas, o azeite, a aguardente e a raspa da casca do limão. Batem-se estes ingredientes à mão durante 1 hora (20 minutos na batedeira elétrica). Depois juntam-se, um a um, batendo os restantes ovos inteiros.


Deixa-se a massa repousar cerca de 1 hora, depois do que é deitada às colheradas em taçinhas ligeiramente untadas com azeite e polvilhadas com farinha. As colheradas de massa devem ficar bem distanciadas, porque a massa alastra. 

Depois disso, levam-se as cavacas a cozer em forno bem quente (220º a 250ºC).Quando cozidas e frias, as cavacas são cobertas com as claras batidas com o açúcar, devendo esta cobertura estar bem espessa. 


Esta região para além de ser conhecida pelas famosas cavacas, desfruta ainda de outras iguarias que destacam a mesa dos pinhelenses: o Caldo Verde, o Javali, o Coelho Bravo à caçador, o Cabrito assado na brasa, e os Enchidos são parte da gastronomia que faz crescer água na boca a quem visita esta terra.















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